A exposição ocupacional ao calor é um dos fatores de risco mais relevantes em atividades realizadas a céu aberto, especialmente no contexto das mudanças climáticas e da intensificação de eventos extremos de temperatura.
A Fundacentro, por meio de décadas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, consolidou o Monitor IBUTG como ferramenta oficial para estimativa do Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo (IBUTG), oferecendo suporte fundamental para a prevenção de agravos à saúde de trabalhadores em ambientes externos.
A seguir, apresentamos os principais pontos que definem a estrutura, funcionamento e aplicabilidade do sistema Monitor IBUTG.
A utilização de dados meteorológicos para estimar o IBUTG em ambientes externos sem fontes artificiais de calor teve início em 2009, com base em observações em campo e modelagens matemáticas realizadas por pesquisadores da Fundacentro.
A primeira versão do software, foi lançada em 2012, inicialmente restrita ao Estado de São Paulo. Com o tempo, o sistema foi ampliado, tanto em cobertura geográfica quanto em funcionalidades, até ser substituído pelo Monitor IBUTG, uma aplicação multiplataforma que passou a integrar também dados previsionais fornecidos pelo INPE, além de dados observados pelo INMET.
Após ajustes necessários em decorrência da Portaria SEPRT Nº 1.359/2019, a versão atual do Monitor IBUTG foi lançada, alinhada às novas exigências normativas.
O Monitor IBUTG é acessível via navegador web ou aplicativo para dispositivos móveis (Android e iOS). Sua funcionalidade baseia-se em três etapas:
Entrada de dados: localização, tipo de solo, vestimenta e atividade exercida;
Processamento: cálculo do IBUTG (ajustado ou não) para diferentes períodos e horas do dia, com possibilidade de simulações retroativas ou previsionais;
Saída de resultados: recomendações preventivas ou corretivas baseadas em limites normativos de exposição ao calor.
O sistema utiliza dois conjuntos de dados meteorológicos:
Observações horárias do INMET, provenientes da Rede de Estações Meteorológicas Automáticas (EMA);
Previsões horárias do modelo ETA do INPE, com cobertura nacional e antecedência de até sete dias.
Ambos os conjuntos alimentam equações desenvolvidas e validadas estatisticamente para estimar as temperaturas de Bulbo Úmido Natural (Tn) e de Globo (Tg), essenciais para o cálculo do IBUTG conforme a equação:
IBUTG = (0,7 × Tn) + (0,1 × T) + (0,2 × Tg)
Para refinar as estimativas, o sistema solicita informações sobre:
Localidade: via GPS, mapa interativo ou inserção manual;
Tipo de solo: com base em albedo, influenciando a absorção de radiação;
Vestimenta: com ajustes no IBUTG conforme o tipo de roupa e presença de capuz;
Taxa Metabólica (TM): informada diretamente ou estimada com base nas atividades exercidas por hora de trabalho.
A definição da Taxa Metabólica (TM) permite calcular automaticamente os limites de exposição conforme a Portaria SEPRT Nº 1.359:
Nível de Ação (NA)
Limite de Exposição (LE)
Exemplo de cálculo para uma hora de atividades mistas:
Atividade |
Tempo |
TM (W) |
Trabalho moderado com o corpo |
20 min |
468 |
Trabalho moderado com as mãos |
30 min |
180 |
Repouso sentado |
10 min |
100 |
TM Ponderada = 262,7 W → NA = 25,7 °C | LE = 28,8 °C
Conforme o cruzamento entre IBUTG ajustado e os limites definidos, o sistema emite orientações para o trabalhador ou empregador, classificadas em três níveis:
Verde: apenas fornecimento de hidratação;
Amarelo: medidas preventivas, como remanejamento de tarefas;
Vermelho: medidas corretivas e pausas obrigatórias.
No aplicativo, o usuário pode ativar notificações automáticas sempre que for prevista condição de exposição perigosa nos próximos sete dias.
O Monitor IBUTG representa um avanço notável no monitoramento da exposição ocupacional ao calor, promovendo a gestão preventiva dos riscos térmicos por meio de tecnologia acessível, fundamentada em evidências científicas e alinhada às exigências legais vigentes.
Ao combinar dados meteorológicos em tempo real com características do ambiente e da atividade, o sistema permite antecipar cenários de risco e implementar ações concretas para proteger a saúde dos trabalhadores.
A ferramenta é, portanto, um recurso essencial para profissionais de SST, empregadores e trabalhadores, especialmente em setores como agricultura, construção civil e mineração, onde a exposição ao calor é frequente e potencialmente perigosa.
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